Manifesto contra Mestiçagem

Considerações sobre a ocorrência de distorções no padrão Fila Brasileiro da
atualidade, decorrente da mestiçagem com raças alienígenas.
Introdução.
A raça Fila Brasileiro, a partir do seu reconhecimento como raça pura pela FCI –
Federação Cinológica Internacional em 1952, em determinado momento da sua historia,
aproximadamente por volta das décadas de 1960 e 1970, tornou-se alvo de experiências
inescrupulosas, sofrendo com a mestiçagem, alterações as mais diversas que vieram a
afetar a sua aparência física e seu comportamento, aviltando sua natureza.
Tais experiências, acompanhadas da falsificação de pedigrees à época,
amplamente denunciadas por diversos organismos de criação, inclusive o presidente da
CBKC em exercício em 1982, Eugenio H. de Lucena, a nosso ver constituem-se em
perigosa ameaça a um patrimônio genético nacional, parte da nossa história.
O trabalho que segue tem por objetivo alertar e orientar novos criadores e
aficionados do nosso cão de Fila, sobre as alterações que resultaram em exemplares
mestiços. Procuramos facilitar a identificação das faltas ocasionadas, perante o padrão
da raça, aprovado pela própria FCI, que no entanto continua a registra-los como se
fossem puros ... e muitas vezes premia-los em exposições oficiais.
Durante mais de 30 anos, estudei esta raça, teoricamente e a campo, visitando
fazendas onde ainda se encontravam exemplares originais. Escrevi o livro “Cão Fila
Brasileiro – Preservação do Original”, como resultado do trabalho de pesquisa e
estudos.
É nossa pretensão publicar uma série de artigos na linha do que segue,
considerando que após mais de 30 anos em que a mestiçagem na raça Fila vem sendo
denunciada, criadores inescrupulosos, juizes da raça e organismos de serviço cartorial
emissores de pedigree, ainda insistem em querer valorizar animais atípicos e
despadronizados, criando-os e comercializado-os.
Tópico I – Tipo Fila - Basset.

Comentário :
Uma invenção moderna é a do fila nanico, de perninhas curtas e corpo de animal
grande, o que ocasiona um animal desarmonioso, achatado.
Geralmente o comprimento do tronco é maior que a altura em mais de 10% ; em
alguns casos, bem mais. O recomendável, e previsto no padrão oficial da raça (ver no
texto do padrão em “Tronco”), reconhecido pela FCI é 10% mais longo do que a altura
na cernelha. Em alguns casos também, nota-se que a altura destes cães tende a ser
menor que a permitida para a raça, havendo necessidade de os donos e handlers, para
fotografá-los consigo, ficarem ajoelhados no chão, pois estes nanicos não atingiriam
certamente muito acima dos joelhos de uma pessoa de altura mediana. O mínimo para a
altura do Fila é de 65 cm. na cernelha para machos(ver texto do padrão em “Altura”).
Uma boa altura é de 70 cm., pois um bom cão boiadeiro depende de grandes pernas para
acompanhar o cavaleiro em longas jornadas, por vezes, de várias léguas no mesmo dia.
Observe-se que a altura abaixo da permitida é Falta Desqualificante para a raça
(ver em “Faltas Gerais” no texto do padrão). E quanto mais perto do mínimo, mais
grave se torna a falta, especialmente quando se considera um conjunto desarmonioso
morfologicamente.
Nestes casos, a funcionalidade fica comprometida em termos de movimento –
eficiência no alcance de terreno – pelas pernas curtas combinadas com excesso de tórax.
Também quase sempre a cabeça apresenta atipias, já que os genes funcionam
vinculados. Observe-se o “afundamento” do crânio (veja explicação no meu livro à
pág.99), típico dos bracóides. O padrão do Fila define o crânio (ver “crânio” no texto do
padrão) com o contorno superior em curva : “suave curva do stop ao occiptal”.
Importante detalhe que caracteriza o Fila na categoria molossóide : crânio braquicéfalo.
Não sendo molossóide, não é Fila.

Tópico II – Fila Mastifado.
Entre as aparências evidentes de raças estrangeiras (importada em épocas
recentes, após o reconhecimento do Fila como raça pura) no nosso Fila, encontramos
características que se assemelham ao Mastim Napoletano e ao Mastif Inglês, muitas
vezes aparência das duas raças em um mesmo cão.
Alguns criadores justificam aparências tão evidentes pelo fato de que o Fila
descenderia destas raças, portanto poderia apresentar tais características. Só um detalhe
: o padrão da raça não identifica estas características como permitidas. Outro detalhe :
até à década de 1950 estas características não existiam !
Foto 1 -

Animal grotescamente compactado, expressão estranha, mastifada (aparência de
Mastif Inglês), muito carregada, com “ar” de apatia, indiferença. Geralmente são
animais linfáticos (lerdos ou de reações retardadas) e pouco enérgicos. A expressão
deveria ser grave e vivaz.
Apresenta lábios em V invertido, quando deveria ser em U invertido.
Tipo geral excessivamente brevilíneo, também com pernas um pouco curtas,
embora não tão nanico como o tipo anterior descrito, mas supertoráxico como a maioria
dos filas modernos, exceto os adogados.
Somando-se o conjunto de características indesejáveis, algumas muito
indesejáveis, e a aparência acentuada com raças alienígenas, podemos dizer que se trata
de animais exóticos, estranhos à história do Fila.
Foto 2


Estruturalmente incorre nos mesmos defeitos, apresentando Stop muito
acentuado, o que denota mais atipia.
Foto 3 –

As fotos 2 e 3 acima se enquadram nos mesmos comentários da foto 1,
reforçando o fato de que a situação é muito grave para a raça Fila, ameaçadora mesmo.
Senhores juizes ecléticos (também alguns especializados), estudem bem o padrão,
atentem para as atipias, sejam responsáveis e respeitem nossa raça, por favor.
Foto 4 – A

Foto 4 -C Mastifila
                                                         
                                                                                                
 Cabeça de um Fila B. Padrão Original.
No caso das fotos 4 e 4 – C, vemos uma situação ainda pior (é possível ser pior
que as anteriores ?). Denota claramente características de Mastifs importados, mas
também com algumas características que são próprias dos Mastins Napoletanos. A
figura é absurdamente grotesca, paquidérmica. Combina corpulência exagerada, tipo
brevilíneo, pernas curtas, com focinho e lábios muito profundos, rima labial em V
invertido ao contrário do que determina o padrão : rima labial em U invertido profundo.
(Ver “Focinho” no texto do padrão), olhos chinesados, e “afogados” pelo excesso de
couro distribuído de forma atípica sobre o crânio. Mesmo estando em estado de atenção,
é enfadonho. A cor cinza-canela costuma aparecer nestes exemplares com esta tipagem.
Faça a comparação da foto de cabeça a que se refere o texto acima, com a foto (4 –
B) da cabeça de um Fila Original, em posição semelhante, e tire suas próprias
conclusões. Observe como a expressão, no original é grave e profunda, sempre
denotando prontidão e jamais enfadonha.
Foto 5 – O Filamarquês e outros, derivados de misturas múltiplas.

Podemos ver acima duas fotos de cães, um preto tipicamente filamarquês, e outro, indefinido,demonstrando no seu fenótipo a participação de mais raças sobre o filamarquês.Como os mestiços são indefinidos, sem raça, sua aparência é imprevisível, assim como seu temperamento, sendo muitas vezes difícil precisar de que misturas são provenientes.No caso da foto superior, é mais evidente a participação do Dog Alemão sobre o Fila Brasileiro. As pernas tendem a ser longas, e o tórax de menor amplitude que no Fila. O dorso é rígido, o tipo é mais  longilíneo, pescoço longo, focinho de excessivo comprimento e crânio estreito.
Com a intenção de disfarçar as características de conformação longilínea, que caracteriza os adogados, criadores inescrupulosos e irresponsáveis, passaram a cruzar Mastins Napoletanos (ou mestiços do Fila com esta raça), com os adogados.A aparência do cão da segunda foto, considerando-se que a foto tenha retratado bem a realidade, induz a entender que se trata deste caso : a mestiçagem múltipla – Fila
Brasileiro, Dogue Alemão e Mastin Napoletano- não se sabendo em que dosagens de cada raça.
Observa-se que seus olhos são chinesados e a cabeça “melhorada” para adquirir aparência molossóide. Mas as evidencias da mestiçagem permanecem inegáveis.

Foto 6 –

É importante observar que as misturas raciais ou atipias por seleção, se
apresentam em variados graus e formatos. Cães atípicos poderão ser acasalados com
bons Filas e produzir filhotes menos exóticos. Porém é preciso ter claro que os sinais de
atipia sempre aparecerão, mesmo que mais disfarçados.
Uma parcela de criadores que ostentam enganosamente o pedigree de Fila
Brasileiro em seus cães falsificados, buscam incessantemente um novo tipo para se
afirmar no cenário da cinofilia, certamente ainda não bem claro em suas cabeças o que
desejam, visto pela grande diversidade de tipos existentes na chamada cinofilia oficial.
O certo é que o novo tipo não tem uma definição clara como o Fila antigo ou original
como prefiro denominar. O tragicômico da situação é que os cães modernos são
despadronizados não só relativamente ao padrão racial, mas também entre eles mesmos
!
Urge que a cinofilia oficial se posicione quanto ao fato consumado !
É vergonhoso para qualquer cidadão, passar pela situação que os senhores da
côrte da cinofilia oficial tem passado, no caso do Fila brasileiro, quando todo o mundo
(planeta Terra mesmo) já viu o rei nu, e eles fazem de conta que estão vestidos.
Até quando permanecerão no ridículo ?
                    Foto 7                                                                  Foto 7 - A
                                                                                        
À esquerda, Jacarandá de Parnapuã, propriedade do canil Amazonas, Luiz
Hemany Filho, final da década de 1950. À direita, Touro do Caramonã com Milton
Sheib, 1992.
Comentário:
Observe-se a expressão aguda, grave e profunda no cão Parnapuan. Observe-se o
olhar alerta, denotando vivacidade e prontidão. Observe o porte, o tamanho das pernas
(mesmo estando sentado pode-se perceber que não é nanico), e a corpulência bem
equilibrada; observe-se o tamanho dos lábios. Compare com os enfadonhos filas
modernos e veja como os Filas Originais são muito mais funcionais.
Observe-se o equilíbrio estrutural no cão Touro, que combina força e potencia
física com pernas de tamanho considerável. O Fila Brasileiro, o original, é bem
definido, transmite suas características e padrão aos descendentes. O convite é para
estuda-lo e preserva-lo.
Tópico III – Cabeças atípicas de filas exóticos da atualidade, comparadas com
cabeças de Filas de Padrão Original.
   Foto 1                                                                                                        Foto 1 - A
                                                                                                              Zumba do Parnapuan


Podemos considerar uma afronta ao padrão, a foto de número 1.
A profundidade dos lábios é possivelmente 2 vezes maior do que deveria ser, ou
seja o comprimento do focinho, como define o padrão (ver em “Focinho” no texto do
padrão oficial da raça)
O formato dos lábios é absurdamente atípico. O padrão diz que (no item
Focinho) a linha inferior do focinho é “quase paralela à superior”. Os criadores
deveriam ler o padrão ..... No caso em questão o lábio desce em perpendicular ao osso
nazal, até à raiz.
Que dizer então da cinofilia oficial (aquela que é autorizada a representar a FCI),
que até mesmo premia cães absurdamente fora do padrão da raça ? Que dizer de juizes,
alguns que até são tidos por especializados, ligados e autorizados por estas entidades
oficiais, que premiam atípicos, despadronizados, vira latas de grande tamanho, como se
fossem Fila Brasileiro ? Em que escola se formaram ? Nesta escola não se estuda o
padrão da raça a que se propõem a julgar ? E “donos”da escola, após inúmeras
denúncias de tantos descalabros nos julgamentos, após tantos anos, onde estão ? Se
esconderam debaixo dos tapetes das passarelas de luxo?
Compare as duas fotos e veja como é a cabeça de um Fila Original (foto 1- A) a
foto da fêmea Zumba de Parnapuan, que podemos considerar ideal.
Foto 2 –

Comentário :
Vê-se uma foto de um Fila verdadeiro, tipo original, nascido em 2007. Compare
com a foto do cão Jacarandá de Parnapuan, da década de 1950, em foto anterior.
Observe-se que a transmissão de caracteres permanece ao longo das décadas,
com o mesmo tamanho de lábios, a expressão vivaz, alerta. O formato dos lábios em
paralelismo com o focinho, praticamente até à base da mandíbula, e os lábios inferiores
que não se desprendem em demasia, reforçam a expressão firme e altiva. Os olhos não
se afogam em rugas, permitindo o agudo do olhar tão característico do Fila Original.
Tamanha definição de caracteres, diante da mestiçagem, se torna
permanentemente maculada, ficando impossível a recuperação da raça a partir de
mestiços. De nada adiantará a abertura do APR , a não ser para prorrogar a enganação a
novos criadores desavisados.
              Foto 3 – Filapolitano.                                                                 Foto 3 - A

Comentário :
Importante analisar a cabeça do exemplar da foto 3, observando-se também o
seu “trem anterior”, que é a parte da frente. A expressão do Napoletano estampada
visivelmente na cabeça, é reforçada pela estrutura anterior (frente), denotando tipo
baixo e atarracado.
A rima labial é uma denúncia em si mesma. Grande demais, forma um perfeito
V invertido, contrariando frontalmente o padrão do Fila Brasileiro.
O stop (ver em “Stop” no texto do padrão oficial) elevado, abrupto, pronunciado,
configura claramente a falta Muito Grave, conforme descreve o padrão (“Faltas
Gerais”). Não há muito o que dizer ; a imagem fala por si.
A foto 3–A, mostra claramente a diferença entre o filapolitano e o Fila Brasileiro
Padrão Original. A expressão é grave sem ser “pesada”, os lábios são menores e em
formato de “U” invertido, como descreve (e exige) o padrão racial. A cabeça em
formato de pêra, obedece ao padrão, também não apresentando qualquer sinal de “stop”
elevado. Fácil de ver, e fácil de ser aplicado nas exposições. Com um pouco de
conhecimento e honestidade, dá pra fazer.
Foto 4 – item Cabeças.                                                                            Foto 4 – A .

Comentário :
Colocamos mais uma foto de um Fila Original, cabeça de frente, e outra lateral,
para comparações e reforço da visualização.
No Original (vista frontal), percebe-se sempre o formato periforme, orelhas de
molosso, grandes, grossas, em forma de V ; a passagem do focinho para o crânio não
apresenta qualquer protuberância ou degrau ; os lábios superiores de profundidade
mediana, como é correto, em formato de U invertido, conferem expressão grave, porém
jamais carregada ou exacerbada.
A foto do Fila Original visto em posição mais lateral, mostra como deve ser o
focinho e a posição e formato dos lábios, estando o animal de boca aberta, bem como a
ausência de Stop. A rima labial acompanha o osso nasal, paralelamente a este, e jamais
descendo em perpendicular.
Considerações finais.
Esperando ter contribuído para esclarecer sobre o padrão da raça Fila Brasileiro
com estas observações, é importante deixar claro que não é intenção agredir quem quer
que seja, mesmo porque acredito que muitos dos novos criadores que adotam linhagens
de filas modernos para sua criação, ainda não tiveram oportunidade de proceder a uma
análise mais profunda sobre o que estão criando.
Pode ser que criadores com muitos anos de criação teimem em alterar o Fila para
fora do padrão, com intenções de, como costumam dizer alguns, “melhora-lo”.
No entanto, não se pode prescindir de um momento de reflexão. Se vamos
preserva-lo, não podemos altera-lo para fora do padrão ; se querem altera-lo porque
acreditam que podem melhorá-lo, devemos então assumir que estão partindo para uma
outra raça (que ainda não tem padrão definido).
Neste caso, estamos falando de opiniões e atitudes radicalmente contrárias,
incontornáveis e inconciliáveis: a daqueles que querem preservar, e a daqueles que
querem alterar (melhorar, como dizem).
Então é preciso que sejamos honestos, aceitando separar os trabalhos com
denominações que os caracterizem : Moderno Fila Brasileiro e Original Fila Brasileiro.
Antonio Carlos Linhares Borges.
Titular do Canil Caramonã, criador e estudioso do Fila B. desde 1976, militante
da raça pelo Cafib desde 1978, Juiz especializado da raça Fila Brasileiro pelo sistema
ACB, atualmente no quadro de árbitros do clube Unifila.

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